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Ligou para o número que havia decorado. Uma mulher com voz alegre disse que Tachyon estava fora, mas voltaria naquela tarde. Ela anotou o nome de Croyd, pareceu reconhecê-lo e mandou que fosse lá às três horas.

Ele terminou a jarra de café; a coceira aumentou gradualmente por todo o corpo enquanto ficara sentado tomando a última xícara. Ele subiu e abriu a água da banheira novamente. Enquanto enchia, se despiu e examinou o corpo. Toda a pele tinha a aparência seca e escamada das mãos. Onde quer que coçasse, havia uma pequena descamação.

Ficou um bom tempo mergulhado. O calor e a umidade eram bons. Depois de alguns instantes se recostou e fechou os olhos. Muito bom...

Ele se sentou com um sobressalto. Havia começado a cochilar. Quase adormeceu naquele momento. Pegou a toalha e começou a se esfregar vigorosamente, não apenas para retirar todo o detrito. Quando terminou, se enxugou rapidamente enquanto a banheira esvaziava e foi apressado para o quarto. Encontrou os comprimidos no fundo de uma gaveta de roupas e tomou dois. Qualquer que fosse o jogo que seu corpo estava fazendo, o sono era seu inimigo naquele momento.

Retornou ao banheiro, limpou a banheira, se vestiu. Seria bom se esticar na cama por algum tempo. Descansar, como Claudia havia sugerido. Mas sabia que não podia.

Tachyon tirou uma amostra de sangue e a colocou em sua máquina. Na primeira tentativa a agulha só havia entrado um pouco e parado. A terceira agulha, empurrada com força considerável, penetrou uma camada subdérmica de resistência e o sangue foi retirado.

Enquanto esperava as descobertas da máquina, Tachyon fez um exame a olho nu.

– Seus incisivos estavam tão compridos quando você acordou? – perguntou, olhando dentro da boca de Croyd.

– Pareciam normais quando os escovei – respondeu Croyd. – Cresceram?

– Dê uma olhada.

Tachyon ergueu um pequeno espelho. Croyd olhou. Os dentes tinham 2,5 cm de comprimento e pareciam afiados.

– Essa é uma novidade – afirmou. – Não sei quando aconteceu.

Tachyon levantou o braço esquerdo de Croyd às costas em uma chave de braço gentil, depois enfiou os dedos abaixo da escápula que se projetava. Croyd deu um berro.

– Tão ruim assim? – perguntou Tachyon.

– Meu Deus! – falou Croyd. – O que é isso? Há algo quebrado aí atrás?

O médico balançou a cabeça. Examinou algumas das cascas de pele ao microscópio. Depois estudou os pés de Croyd.

– Estavam tão grandes quando você acordou? – perguntou.

– Não. Que porra está acontecendo, doutor?

– Vamos esperar mais um minuto até minha máquina terminar com seu sangue. Você já esteve aqui três ou quatro vezes...

– Sim – disse Croyd.

– Felizmente você veio uma vez logo ao acordar. Em outra, apareceu umas seis horas após despertar. Na primeira ocasião tinha um nível alto de um hormônio muito particular que na época achei que poderia estar associado ao próprio processo de mudança. Na vez seguinte, seis horas após acordar, ainda tinha traços do hormônio, mas em um nível muito baixo. As únicas vezes em que foi evidente.

– E?

– O principal teste no qual estou interessado agora é conferir sua presença no sangue. Ah! Acredito que já temos alguma coisa.

Uma série de símbolos estranhos brilhou na tela da pequena unidade.

– Sim. De fato, sim – disse ele, estudando-os. – Você tem um alto nível da substância em seu sangue; ainda maior do que era pouco após despertar. Ahn. Você também tem tomado anfetaminas novamente.

– Precisei. Estava começando a ficar sonolento, e tenho de chegar até sábado. Diga em palavras simples o que esse maldito hormônio significa.

– Significa que o processo de mudança ainda está ocorrendo em você. Por alguma razão você acordou antes que ele se completasse. Ele parece ter um ciclo regular, mas dessa vez foi interrompido.

– Por quê?

Tachyon deu de ombros, um movimento que parecia ter aprendido desde a última vez em que Croyd o viu.

– Algum de uma constelação de possíveis acontecimentos bioquímicos deflagrados pela própria mudança. Acho que você provavelmente recebeu algum estímulo cerebral como efeito colateral de outra mudança que estava acontecendo no momento em que foi despertado. Qualquer que tenha sido essa mudança específica, ela foi concluída; mas o restante do processo não. Então, seu corpo agora está tentando fazer você dormir de novo até terminar seu trabalho.

– Em outras palavras, eu acordei cedo demais?

– Sim.

– O que devo fazer?

– Pare de tomar as drogas imediatamente. Durma. Deixe o processo seguir seu curso.

– Não posso. Tenho de ficar acordado mais dois dias; na verdade um dia e meio bastam.

– Suspeito que seu corpo irá lutar contra isso e, como já disse antes, ele parece saber o que está fazendo. Acho que você pode correr riscos ficando acordado muito mais tempo.

– Que tipo de risco? Quer dizer que isso pode me matar; ou apenas me deixará desconfortável?

– Croyd, simplesmente não sei. Seu quadro é único. Cada mudança segue um caminho diferente. A única coisa em que podemos confiar é que algum ajuste seu corpo fez ao vírus, algo dentro de você faz com que passe em segurança por cada surto. Se tentar ficar acordado por meios artificiais, é exatamente isso que estará combatendo.

– Eu já afastei o sono muitas vezes com anfetaminas.

– Sim, mas nessas vezes você estava apenas adiando o início do processo. Ele normalmente não começa até sua química cerebral registrar um estado de repouso. Mas agora ele já está em desenvolvimento e a presença do hormônio indica sua continuação. Não sei o que acontecerá. Você pode transformar uma fase ás em uma fase curinga. Pode mergulhar em um coma realmente longo. Simplesmente não tenho como dizer.

Croyd pegou a camisa.

– Depois conto como foi – disse.

Croyd não estava tão disposto a caminhar como costumava fazer. Pegou o metrô novamente. Sua náusea voltou, e dessa vez trouxe com ela uma dor de cabeça. E seus ombros ainda doíam muito. Foi à farmácia perto da estação do metrô e comprou um frasco de aspirinas.

Antes de ir para casa, parou no prédio onde os Sarzanno haviam morado. Dessa vez o zelador estava. Mas não pôde ajudar, pois a família de Joe não havia deixado endereço ao partir. Croyd deu uma espiada no espelho ao lado da porta do homem ao sair e ficou chocado com o inchaço em seus olhos, as olheiras profundas abaixo. Agora estavam começando a doer, notou.

Voltou para casa. Havia prometido levar Claudia e Carl para jantar em um bom restaurante e queria estar na melhor forma possível para a ocasião. Retornou ao banheiro e se despiu outra vez. Estava enorme, com uma aparência inchada. Então se deu conta de que com todos os outros sintomas, se esquecera de dizer a Tachyon que não se aliviara em momento algum desde que acordou. Seu corpo devia estar encontrando alguma utilidade para tudo o que comeu ou bebeu. Subiu na balança, mas ela só ia até 136 e ele estava acima disso. Tomou duas aspirinas e esperou que fizessem efeito logo. Coçou o braço e uma longa tira de carne se soltou, indolor e sem sangrar. Coçou mais levemente em outras áreas e a escamação continuava. Tomou uma chuveirada e escovou as presas. Penteou os cabelos e grandes mechas saíram. Parou de pentear. Por um momento quis chorar, mas foi distraído por um surto de bocejos. Foi ao seu quarto e tomou mais duas anfetaminas. Depois, lembrou-se de ter ouvido em algum lugar que a massa corporal deve ser levada em conta no cálculo das doses de medicamentos. Então tomou mais uma, só por garantia.