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Enquanto a Depressão passava, o envolvimento de Earl com o PC murchava – talvez a revolução não fosse acontecer no final das contas. A greve na GM foi encerrada a favor da CIO enquanto Earl aprendia a ser um revolucionário na Rússia. A Irmandade foi reconhecida pela Pullman Company em 1938 e Randolph finalmente começou a receber um salário – havia trabalhado todos aqueles anos de graça. O sindicato e Randolph estavam tomando muito do tempo de Earl, e seu comparecimento às reuniões do partido começou a diminuir.

Quando o pacto germano-soviético foi assinado, Earl se desfiliou do PC com raiva. Fazer acordo com os fascistas não era seu estilo.

Earl me contou que depois de Pearl Harbor a Depressão terminou para os brancos quando começou a contratação nos fornecedores da Defesa, mas poucos foram os que conseguiram empregos. Randolph e seu pessoal finalmente se cansaram. Randolph ameaçou com uma greve nas ferrovias – em plena época de guerra – combinada com uma marcha rumo a Washington. Franklin Roosevelt enviou seu negociador, Archibald Holmes, para conseguir um acordo. Isso resultou na Ordem Executiva 8802, pela qual fornecedores do governo eram proibidos de discriminar por raça. Foi um dos marcos legais na história dos direitos civis e um dos maiores sucessos da carreira de Earl. Ele sempre falava disso como uma das realizações que lhe davam mais orgulho.

Na semana seguinte à Ordem 8802, a classificação de Earl para convocação foi alterada para 1-A. Seu trabalho com o sindicato das ferrovias não o protegeria. O governo estava se vingando.

Earl decidiu se oferecer como voluntário para a Força Aérea. Sempre quis voar.

Ele estava velho para ser piloto, mas ainda era um atleta e seu condicionamento o levou a ser aprovado nos exames físicos. Seu registro foi rotulado de AFP, Antifascista Prematuro, classificação oficial para alguém pouco confiável o bastante para não gostar de Hitler antes de 1941.

Foi designado para o 332º Grupo de Caça, uma unidade inteiramente negra. O processo de seleção de aviadores negros era tão severo que a unidade terminou cheia de professores, ministros protestantes, médicos, advogados – e todas essas pessoas brilhantes também apresentavam reflexos de pilotos de primeira categoria. Como nenhum dos grupos aéreos no exterior queria pilotos negros, o grupo permaneceu meses seguidos treinando em Tuskegee. Eles acabaram tendo três vezes mais treinamento do que o grupo médio e, quando finalmente se deslocaram para bases na Itália, o grupo conhecido como “Águias Solitárias” explodiu no Teatro de Operações Europeu.

Voaram com seus Thunderbolts sobre a Alemanha e os países dos Bálcãs, incluindo os alvos mais difíceis. Realizaram mais de 15 mil missões e, durante esse período, nem um único bombardeiro escoltado foi perdido para a Luftwaffe. Depois que a notícia correu, grupos de bombardeiros começaram a pedir especificamente que o 332º escoltasse suas aeronaves.

Um dos principais pilotos era Earl Sanderson, que terminou a guerra com 53 abates “não confirmados”. Os abates não eram confirmados porque não eram feitos registros para os esquadrões negros – as forças armadas temiam que os pilotos negros pudessem ter totais superiores aos dos brancos. Seu medo era justificado – aquele número colocava Earl acima de todo piloto norte-americano, exceto Jetboy, que era outra enorme exceção a um monte de regras.

No dia em que Jetboy morreu, Earl voltou para casa com o que achava ser uma grande gripe, e no dia seguinte acordou como um ás negro.

Ele podia voar, aparentemente por vontade própria, a até oitocentos quilômetros por hora. Tachyon chamou isso de “telecinesia de projeção”.

Earl também era bastante resistente, embora não tão resistente quanto eu – como acontecia comigo, as balas ricocheteavam nele. Mas tiros de canhão podiam feri-lo e eu sabia que ele temia a possibilidade de uma colisão no ar com um avião.

E ele podia projetar uma muralha de força diante dele, uma espécie de onda de choque viajante que tirava tudo do seu caminho. Homens, veículos, paredes. Um som como um trovão estalando e a coisa era arremessada trinta metros à frente.

Earl passou duas semanas testando seus talentos antes de permitir que o mundo soubesse deles, voando sobre a cidade com seu capacete de piloto, jaqueta de couro preta de aviador e botas. Quando finalmente deixou que as pessoas soubessem, o Sr. Holmes foi um dos primeiros a telefonar.

Conheci Earl no dia seguinte a fechar acordo com o Sr. Holmes. Já havia me mudado para um dos aposentos livres do Sr. Holmes e recebera uma chave do apartamento. Estava subindo na vida.

Eu o reconheci imediatamente.

– Earl Sanderson – saudei-o, antes que o Sr. Holmes pudesse nos apresentar, e apertei sua mão. – Lembro-me de ler sobre você quando jogou pela Rutgers.

Earl recebeu aquilo com serenidade.

– Você tem uma boa memória – disse.

Nós nos sentamos e o Sr. Holmes explicou formalmente o que queria de nós, e de outros que esperava recrutar mais tarde. Earl não gostava do termo “ás”, significando alguém com habilidades úteis, em oposição a “curinga” – significando alguém muito desfigurado pelo vírus –, sentia que os termos impunham um sistema de classe aos que haviam tirado a carta selvagem e não queria nos colocar no alto de alguma pirâmide social. O Sr. Holmes chamou nossa equipe oficialmente de Exóticos pela Democracia. Nós nos tornaríamos símbolos visíveis dos ideais norte-americanos do pós-guerra para dar crédito à tentativa norte-americana de reconstruir a Europa e a Ásia, continuar a luta contra o fascismo e a intolerância.

Os Estados Unidos criariam uma Era de Ouro no pós-guerra e a partilhariam com o restante do mundo. Nós seríamos seu símbolo.

Parecia ótimo. Eu queria participar.

No caso de Earl a decisão foi um pouco mais difícil. Holmes havia conversado com ele antes e pedido que fizesse o mesmo tipo de acordo que mais tarde Branch Rickey pediu a Jackie Robinson: Earl teria de ficar fora da política interna. Teria de anunciar que rompera com Stalin e o marxismo, que estava comprometido com uma mudança pacífica. Foi pedido que mantivesse seu temperamento sob controle, que absorvesse a inevitável raiva, o racismo e a superioridade, e fazer isso sem retaliação.

Mais tarde, Earl me contou que lutou contra si mesmo. Ele conhecia seus poderes e sabia que podia mudar as coisas simplesmente estando presente onde fatos importantes estivessem acontecendo. Policiais do Sul não poderiam dispersar reuniões de integração se alguém presente pudesse esmagar companhias inteiras de patrulheiros estaduais. Fura-greves seriam lançados longe por sua onda de força. Se ele decidisse ir ao restaurante de alguém, todo o Corpo de Fuzileiros não poderia retirá-lo – pelo menos não sem destruir o prédio inteiro.

Mas o Sr. Holmes havia chamado atenção para que se ele usasse seus poderes dessa forma, não seria Earl Sanderson quem pagaria o preço. Se Earl Sanderson fosse visto reagindo violentamente à provocação, negros inocentes seriam pendurados em galhos de carvalho por todo o país.

Earl deu ao Sr. Holmes a garantia que ele desejava. A partir do dia seguinte, nós dois começamos a fazer muita história.

O Exóticos pela Democracia (EPD) nunca fez parte do governo dos Estados Unidos. O Sr. Holmes conversava com o Departamento de Estado, mas pagava a Earl e a mim do próprio bolso, e eu morava em seu apartamento.

A primeira coisa foi lidar com Perón. Ele fora eleito presidente da Argentina em uma eleição fraudada e estava a caminho de se transformar em uma versão sul-americana de Mussolini e a Argentina, em um refúgio de fascistas e criminosos de guerra. O Exóticos pela Democracia voou rumo ao sul para descobrir o que podíamos fazer em relação a isso.