Выбрать главу

Segundo Tachyon, o que ele devia fazer era acelerar os poderes mentais deles, talvez até mesmo lhes dar novos poderes, transformá-los em semideuses, o que certamente lhes daria uma vantagem sobre os outros. Mas nem sempre funcionava assim. Algumas vezes, sim. Mas com maior frequência matava as cobaias. Ficou falando em como aquela coisa era mortal e conseguiu me dar arrepios. Quais eram os sintomas?, perguntei. Sabíamos sobre armas biológicas desde 1946; só para o caso de estar dizendo a verdade, queria saber o que procurar.

Ele não conseguiu me dizer os sintomas. Havia todo tipo de sintoma. Todos tinham sintomas diferentes, cada pessoa. Já ouviu falar de um germe que funcione assim? Eu não.

Então Tachyon disse que algumas vezes transformava as pessoas em aberrações em vez de matá-las. Que tipo de aberrações?, perguntei. Todos os tipos, disse ele. Admiti que isso parecia muito ruim e perguntei por que o pessoal dele não havia usado essa coisa nas outras famílias. Porque algumas vezes o vírus funcionava, falou; refazia as vítimas, lhes dava poderes. Que tipos de poder? Todos os tipos de poderes, naturalmente.

Então eles tinham essa coisa. Não queriam usá-la nos inimigos e talvez lhes dar poder. Não queriam usar neles mesmos e matar metade da família. Não queriam esquecer a coisa toda. Decidiram testar em nós. Por que nós? Porque éramos geneticamente idênticos aos takisianos, disse, a única raça da qual tinham conhecimento, e o vírus era projetado para funcionar no genótipo takisiano. Por que tínhamos tanta sorte? Alguns deles achavam que era evolução paralela, outros acreditavam que a Terra era uma colônia takisiana perdida – ele não sabia e não se importava.

Ele se importava com a experiência. Achava que era “ignóbil”. Ele protestou, disse, mas o ignoraram. A nave partiu. E Tachyon decidiu detê-los sozinho. Veio atrás deles em uma nave menor, queimou o maldito impulso tachyon para chegar antes deles. Embora fosse da família, mandaram que sumisse quando os interceptou e houve uma espécie de batalha espacial. A nave dele foi danificada, a deles, incapacitada, então caíram. Em algum lugar a leste, disse. Ele os perdeu por causa dos danos em sua nave. Então aterrissou em White Sands, onde achou que poderia conseguir ajuda.

Registrei a história toda em meu gravador. Depois o Serviço de Informações do Exército entrou em contato com todo tipo de especialista: bioquímicos, médicos, pessoal de guerra bacteriológica, tudo em que você pensar. Um vírus alienígena, dissemos a eles, sintomas totalmente aleatórios e imprevisíveis. Impossível, disseram. Totalmente absurdo. Um deles me deu uma aula sobre como germes da Terra nunca poderiam afetar marcianos como naquele livro de H.G. Wells, e germes marcianos também não podiam nos afetar. Todos concordaram em que essa coisa de sintomas aleatórios era risível. Então, o que deveríamos fazer? Todos fizemos piada sobre a gripe marciana e a febre do espaçonauta. Alguém, não lembro quem, chamou-o de vírus carta selvagem em um relatório e o restante de nós passou a usar o nome, mas ninguém acreditou nisso por um segundo.

Era uma situação ruim e Tachyon só a tornou pior quando tentou fugir. Ele quase conseguiu, mas, como meu velho sempre me dizia, “quase” só vale para ferraduras e granadas. O Pentágono havia mandado seu próprio homem para interrogá-lo, um coronel da Aeronáutica chamado Wayne, e Tachyon enfim se cansou, acho. Ele assumiu o controle do coronel Wayne e simplesmente saíram marchando juntos do prédio. Sempre que eram barrados, Wayne ordenava que os deixassem passar, e a patente tem seus privilégios. O disfarce era que Wayne tinha ordem de escoltar Tachyon de volta a Washington. Requisitaram um jipe e foram até a espaçonave, mas nesse momento uma das sentinelas havia verificado comigo, e meus homens esperavam por eles com ordens diretas de ignorar qualquer coisa que o coronel Wayne dissesse. Nós o levamos de volta sob custódia e o mantivemos lá, sob guarda reforçada. Apesar de todos os poderes mágicos, não havia muito que pudesse fazer. Podia obrigar uma pessoa a realizar o que queria, talvez três ou quatro, se realmente se esforçasse, mas não todos nós, e já estávamos atentos aos seus truques.

Talvez tenha sido uma manobra idiota, mas a tentativa de fuga conseguiu para ele o encontro que pedia com Einstein. O Pentágono continuava nos dizendo que ele era o maior hipnotizador do mundo, mas eu não estava mais engolindo aquilo, e você deveria ter ouvido o que o coronel Wayne pensava da teoria. Os sabichões também estavam ficando agitados. De qualquer forma, Wayne e eu conseguimos arrancar uma autorização para levar o prisioneiro de avião a Princeton. Imaginei que uma conversa com Einstein não poderia fazer mal e, quem sabe, pudesse ser algo bom. A nave dele estava sob custódia e já havíamos arrancado do homem tudo o que podíamos. Einstein supostamente era o maior cérebro do mundo, então talvez conseguisse descobrir qual era a do sujeito, certo?

Ainda há aqueles que dizem que os militares são culpados por tudo o que aconteceu, mas isso não é verdade. É fácil ser esperto retrospectivamente, mas eu estava lá e vou afirmar até morrer que os passos que demos foram racionais e prudentes.

A coisa que realmente me irrita é quando falam que não fizemos nada para rastrear aquele maldito globo com os esporos do carta selvagem. Talvez tenhamos cometido um equívoco, certo, mas não éramos idiotas, estávamos protegendo nossos traseiros. Cada maldita instalação militar do país recebeu a ordem de ficar atenta a uma espaçonave caída que parecesse algo como uma concha com luzes de navegação. É culpa minha que nenhuma delas tenha levado isso a sério, droga?

Pelo menos me dê o crédito de uma coisa. Quando o inferno começou, coloquei Tachyon em um jato para Nova York em duas horas. Estava na poltrona atrás dele. O ruivo covarde chorou metade da maldita viagem através do país. Já eu, rezei por Jetboy.

Trinta minutos

sobre a Broadway!

A ÚLTIMA AVENTURA DE JETBOY!

Howard Waldrop

O Campo de Aviação Bonham, em Shantak, Nova Jersey, estava fechado em razão do mau tempo. O pequeno holofote na torre mal expulsava a escuridão no nevoeiro rodopiante.

Houve o som de pneus de carro no piso molhado em frente ao hangar 23. Uma porta de carro se abriu, um momento depois se fechou. Passos alcançaram a porta de serviço. Ela se abriu. Scoop Swanson entrou, carregando sua Kodak Autograph Mark II e uma bolsa de lâmpadas de flash e filmes.

Lincoln Traynor se ergueu do motor do P-40 excedente, que estava reformando para um piloto de linha aérea que o comprou em um leilão por 293 dólares. A julgar pela forma do motor, devia ter sido pilotado pelos Tigres Voadores, em 1940. O rádio na bancada de trabalho transmitia um jogo. Linc diminuiu o som.

– Oi, Linc – disse Scoop.

– Oi.

– Nada ainda?

– Não, estou esperando. O telegrama que ele mandou ontem disse que chegaria esta noite. É o suficiente para mim.

Scoop acendeu um Camel com uma caixa de fósforos Three Torches que pegou na bancada. Soprou fumaça na direção da placa de “Absolutamente Proibido Fumar” nos fundos do hangar.

– Ei, o que é isso? – Ele caminhou até os fundos. Ainda em suas embalagens, havia duas extensões de asa vermelhas e dois tanques de cerca de mil litros em forma de gota para instalar sob as asas.

– A Força Aérea enviou ontem de São Francisco. Chegou outro telegrama para ele hoje. Você deveria ler, é quem está escrevendo a história.

Linc lhe deu as ordens do Departamento de Guerra.

PARA: Jetboy (Tomlin, Robert NMI)

ORIGEM: Campo de Aviação Bonham

Hangar 23

Shantak, Nova Jersey

1. Efetivo esta data 1.200 horas Zulu, 12 de agosto de 1946, você não está mais em serviço ativo, Força Aérea do Exército dos Estados Unidos.

2. Sua aeronave (modelo experimental – no serv. JB-1) está por meio deste retirada da ativa, Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, e repassada a você como aeronave particular. Material de apoio da FAEUA ou do Departamento de Guerra não será mais enviado.