Para os que estavam ao ar livre, aquela noite quente de agosto foi ainda mais espetacular. Uma fina linha luminosa bem no alto se deslocou, brilhante, ainda caindo. Então se expandiu, o brilho aumentando, transformada em um bólido azul-esverdeado, pareceu parar e depois se transformou em cem faíscas cadentes que se apagaram lentamente no céu escuro estrelado.
Algumas pessoas disseram ter visto outra luz menor alguns minutos depois. Ela pareceu pairar, depois acelerou na direção oeste, ficando mais escura à medida que avançava. Os jornais estavam cheios de histórias sobre os “foguetes fantasmas” na Suécia naquele verão. Era uma temporada sem muita novidade.
Alguns telefonemas para o Departamento de Meteorologia ou bases da Força Aérea do Exército receberam a resposta de que provavelmente eram desvios da chuva de meteoros delta aquarídios.
Em Pine Barrens alguém sabia que não era, embora não estivesse com disposição para comunicar isso a ninguém.
Jetboy, vestindo calças largas, camisa e jaqueta marrom de aviador, passou pelas portas da Gráfica Blackwell. Havia uma placa brilhante em vermelho e azul sobre a porta: Lar da Cosh Comics Company.
Ele parou junto à mesa da recepcionista.
– Robert Tomlin, vim ver o Sr. Farrell.
A secretária, uma coisinha loura e magra usando óculos de aros alongados para cima que davam a impressão de que um morcego havia acampado em seu rosto, ficou olhando para ele:
– O Sr. Farrell faleceu no inverno de 1945. Você estava servindo ou algo assim?
– Algo assim.
– Gostaria de falar com o Sr. Lowboy? Ele tem o cargo do Sr. Farrell agora.
– Quem estiver encarregado da história em quadrinhos de Jetboy.
O lugar inteiro começou a tremer com as impressoras sendo ligadas nos fundos do prédio. As paredes do escritório tinham capas extravagantes de revistas em quadrinhos, prometendo coisas que apenas eles podiam oferecer.
– Robert Tomlin – disse a secretária no interfone.
– (Escrate grinte) nunca ouvi sobre ele (esquique).
– Qual é o assunto? – perguntou a secretária.
– Diga a ele que Jetboy quer vê-lo.
– Ah – disse, olhando para ele. – Desculpe. Não o reconheci.
– Ninguém reconhece.
Lowboy parecia um gnomo do qual todo o sangue havia sido sugado. Era pálido como Harry Langdon devia ser, como uma erva daninha que tivesse crescido sob uma bolsa de aniagem.
– Jetboy! – Ele estendeu a mão que parecia um punhado de larvas de escaravelhos. – Todos nós achamos que havia morrido até vermos os jornais semana passada. Você é um herói nacional, sabia disso?
– Não me sinto como um.
– O que posso fazer por você? Não que não esteja contente de finalmente conhecê-lo. Mas você deve ser um homem ocupado.
– Bem, para começar, descobri que nenhum dos meus cheques de licenciamento e direitos autorais foi depositado em minha conta desde que fui dado como Desaparecido e Considerado Morto no verão passado.
– Como? Sério? O departamento jurídico deve ter depositado em juízo ou algo assim até alguém aparecer reivindicando. Vou mandar acertarem isso.
– Bem, eu gostaria do cheque agora, antes de sair – afirmou Jetboy.
– Hã? Não sei se podem fazer isso. Isso é assustadoramente repentino.
Jetboy o encarou.
– Certo, certo, vou ligar para a Contabilidade – disse, gritando ao telefone.
– Ah – disse Jetboy. – Um amigo tem recebido meus exemplares. Verifiquei os registros de circulação dos dois últimos anos. Sei que Jetboy tem vendido 500 mil cópias por edição atualmente.
Lowboy gritou um pouco mais no telefone. Depois desligou.
– Eles já vão trazer. Mais alguma coisa?
– Não gosto do que está acontecendo à revista – disse Jetboy.
– O que há para não gostar? Está vendendo meio milhão de exemplares por mês!
– Para começar, o avião está ficando cada vez mais parecido com uma bala. E os artistas curvaram as asas para trás, por Deus!
– Esta é a Era Atômica, garoto. Os meninos hoje não gostam de um avião que parece uma perna de cordeiro vermelha com cabides se projetando da parte da frente.
– Bem, ele sempre foi assim. E outra coisa: por que o maldito avião ficou azul nos três últimos números?
– Não fui eu! Eu acho vermelho legal. Mas o Sr. Blackwell enviou um memorando dizendo que nada mais de vermelho a não ser para sangue. Ele é um convicto membro da Legião Americana.
– Diga a ele que o avião tem de parecer certo e ter a cor certa. E os relatórios de combate foram repassados. Quando Farrell estava sentado na sua cadeira a história era sobre voar e combater, e eliminar grupos espiões, coisas reais. E nunca houve mais do que duas histórias de dez páginas do Jetboy por número.
– Quando Farrell estava nesta mesa a revista vendia apenas um quarto de milhão de exemplares por mês – disse Lowboy.
Robert o encarou novamente.
– Eu sei que a guerra acabou e todos querem uma casa nova e uma excitação de arregalar os olhos – disse Jetboy. – Mas veja o que encontrei nos últimos 18 meses... Eu nunca lutei contra ninguém como o Undertaker, em um lugar chamado Montanha da Perdição. E vamos lá! O Esqueleto Vermelho? Mr. Maggot? Professor Blooteaux? O que é isso com crânios e tentáculos? Quer dizer, Gêmeos Alemães do Mal? O Macaco Artrópode, um gorila com seis pares de cotovelos? Onde vocês arranjam essas coisas?
– Não sou eu, são os roteiristas. É um bando de malucos, sempre tomando benzedrina e coisas assim. Além disso, é isso que as crianças querem!
– E quanto às criaturas voadoras e as matérias sobre heróis da aviação de verdade? Achei que meu contrato determinava pelo menos duas histórias por edição sobre acontecimentos e pessoas reais.
– Bem, vamos ter que ver isso novamente. Mas posso lhe dizer que as crianças não querem mais essas coisas. Elas querem monstros, espaçonaves, coisas que as façam molhar a cama. Você lembra? Você também já foi criança!
Jetboy pegou um lápis na mesa.
– Eu tinha 13 anos quando a guerra começou, 15 quando bombardearam Pearl Harbor. Passei seis anos em combate. Algumas vezes acho que nunca fui criança.
Lowboy ficou um tempo em silêncio.
– Vou lhe dizer o que você tem que fazer – falou. – Você tem que colocar no papel todas as coisas de que não gosta nas revistas e mandar para nós. Mandarei o departamento jurídico dar uma olhada e vamos tentar fazer algo, resolver as coisas. Claro que imprimimos com três números de antecedência, de modo que só no dia de Ação de Graças as coisas novas vão aparecer. Ou depois.
Jetboy suspirou.
– Entendo.
– Certamente quero que você fique feliz, porque Jetboy é minha história preferida. Não, falando sério. As outras são só trabalho. Meu Deus, que trabalho: prazos, trabalhar com bêbados ou, pior, tomar conta dos gráficos, você nem pode imaginar! Mas gosto do trabalho com Jetboy. É especial.
– Bem, fico contente.
– Claro, claro – disse Lowboy, tamborilando sobre a mesa. – Por que será que estão demorando tanto?
– Provavelmente pegando o outro conjunto de livros-caixa.
– Ei, não! Nós estamos limpos aqui! – disse Lowboy, se levantando.
– Estava só brincando.
– Ah. Diga, o jornal falou que você estava o quê, náufrago em uma ilha deserta ou coisa assim? Muito duro?
– Bem, solitário. Fiquei cansado de pegar e comer peixe. Era acima de tudo tedioso e perdi tudo. Não quero dizer estar perdido, quero dizer ter perdido. Fiquei lá de 29 de abril de 1945 até mês passado. Em certos momentos achei que fosse enlouquecer. Não consegui acreditar quando certa manhã ergui os olhos e lá estava o USS Reluctant ancorado a menos de dois quilômetros da praia. Disparei um sinal e eles me pegaram. Demorou um mês para encontrar um lugar para consertar o avião, descansar e vir para casa. Estou contente de voltar.