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Os policiais levaram o ruivo a seu escritório e os apresentaram.

– Por favor, sente-se, doutor – disse A.E. Ele acendeu o cachimbo.

O homem parecia pouco à vontade, como deveria após dois dias de interrogatório pelo Serviço de Informações do Exército.

– Eles me contaram o que aconteceu em White Sands e que você não queria falar com ninguém além de mim – informou A.E. – Então usaram tiopental em você e não fez efeito?

– Ele me deixou bêbado – disse o homem, cujos cabelos pareciam alaranjados e amarelados sob aquela luz.

– Mas você não falou?

– Eu disse coisas, mas não o que eles queriam ouvir.

– Muito incomum.

– Química sanguínea.

A.E. suspirou. Olhou pela janela do escritório de Princeton.

– Então muito bem. Vou escutar sua história. Não estou dizendo que irei acreditar, mas irei escutar.

– Tudo bem – disse o homem, respirando fundo. – Vamos lá.

Ele começou a falar, de início lentamente, formando as palavras com cuidado, ganhando confiança à medida que falava. Então começou a falar mais rápido, seu sotaque voltou, um que A.E. não conseguiu identificar, algo como um nativo das ilhas Fiji que tivesse aprendido inglês com um sueco. A.E. encheu o cachimbo mais duas vezes, depois o deixou apagado após encher uma terceira. Ele se sentou inclinando-se um pouco para a frente, eventualmente concordando, os cabelos grisalhos formando uma auréola à luz da tarde.

O homem terminou.

A.E. se lembrou do cachimbo, achou um fósforo e acendeu. Colocou as mãos atrás da cabeça. Havia um pequeno furo perto do cotovelo esquerdo do suéter.

– Eles nunca acreditarão em nada disso – falou.

– Não ligo, desde que façam algo! – disse o homem. – Desde que eu o consiga de volta.

A.E. olhou para ele.

– Se acreditarem em você, as implicações de tudo isso irão suplantar a razão pela qual você está aqui. O fato de que você está aqui, se é que me entende.

– Bem, o que podemos fazer? Se minha nave ainda estivesse funcionando eu mesmo estaria procurando. Fiz a segunda melhor opção; pousei onde certamente chamaria atenção, pedi para falar com você. Talvez outros cientistas, institutos de pesquisa...

A.E. riu.

– Perdoe-me. Você não entende como as coisas são feitas aqui. Vamos precisar dos militares. Vamos ter os militares e o governo, queiramos ou não, então é melhor que os tenhamos nos melhores termos possíveis, os nossos, desde o começo. O problema é que você tem que pensar em algo que seja plausível para eles e ainda assim os leve a fazer a busca.

– Vou falar com o pessoal do Exército sobre você, depois telefonar para uns amigos. Acabamos de encerrar uma grande guerra global e muitas coisas podem passar despercebidas, ou se perder na confusão. Talvez possamos conseguir alguma coisa assim.

– O problema é que será melhor fazer isso de um telefone público. Os policiais militares estarão junto, então terei que falar baixo. Diga – indagou ele, pegando o chapéu no canto de uma estante abarrotada de livros –, você gosta de sorvete?

– Sólidos de lactose e açúcar densos em uma mistura mantida pouco abaixo do ponto de congelamento? – perguntou o homem.

– Eu lhe garanto que é melhor do que soa, e muito refrescante – disse A.E. Eles passaram pela porta do escritório de braços dados.

Jetboy deu um tapinha na lateral danificada do avião. Estava no hangar 23. Linc saiu do escritório limpando as mãos em um trapo sujo de graxa.

– Ei, como foi? – perguntou.

– Ótimo. Eles querem o livro de memórias. Será o grande livro da primavera, se eu conseguir terminar a tempo, ou pelo menos é o que dizem.

– Continua determinado a vender o avião? – perguntou o mecânico. – Eu certamente odeio vê-lo partir.

– Bem, essa parte da minha vida está encerrada. Sinto como se nunca fosse voar novamente, mesmo como passageiro de uma empresa, será cedo demais.

– O que quer que eu faça?

Jetboy olhou para o avião.

– Vou lhe dizer. Coloque as extensões de asa de grande altitude e os tanques externos. Parece maior e mais brilhante assim. Alguém de um museu provavelmente comprará, é o que imagino; estou oferecendo primeiro aos museus. Se isso não funcionar, colocaremos anúncios nos jornais. Tiramos as armas depois se algum cidadão comprar. Verifique se tudo está apertado. Não deve ter sacudido muito na viagem desde São Francisco e eles fizeram uma bela reforma no Hickam Field. Avise sobre qualquer coisa que você achar que precisa.

– Certamente.

– Ligo amanhã, a não ser que algo não possa esperar.

AERONAVE HISTÓRICA À VENDA: jato bimotor de Jetboy. 2 motores de empuxo de 1.200 lbs, velocidade de 600 mph a 25 mil pés, alcance 650 milhas, tanques externos 1000 w (tanques e ext. de asa inc.) comprimento 9,5 m, env. 9,9 m (14,7 m ext.). Aceito ofertas razoáveis. É ver e gostar. Em exibição no hangar 23 Campo de Aviação Bonham, Shantak, Nova Jersey.

Jetboy ficou de pé em frente à vitrine da livraria, olhando para as pirâmides de títulos novos. Dava para notar que o racionamento de papel havia acabado. No ano seguinte seu livro seria um deles. Não apenas uma revista em quadrinhos, mas a história de sua participação na guerra. Ele esperava que fosse suficientemente bom para não se perder na multidão.

Parecia que, nas palavras de alguém, todo maldito barbeiro e engraxate que foi convocado havia escrito um livro sobre como ganhou a guerra.

Havia seis livros de memórias de guerra em uma vitrine, de todo tipo de gente, desde um tenente-coronel até um general de divisão (será que aqueles barbeiros soldados não escreviam tantos livros?).

Talvez tivessem escrito alguns, entre as duas dúzias de romances de guerra que cobriam a outra vitrine.

Havia dois livros perto da porta, pilhas deles em uma vitrine própria, best-sellers, que não eram romances ou memórias de guerra. Um se chamava The Grass Hopper Lies Heavy, de alguém chamado Abendsen (Hawthorne Abendsen, obviamente um pseudônimo). O outro era um livro grosso intitulado Growing Flowers by Candlelight in Hotel Rooms, de alguém tão recatada a ponto de se identificar como “Sra. Charles Fine Adams”. Deve ser um livro de poemas ilegível que o público, em sua loucura, tinha adotado. Não havia explicação para o gosto.

Jetboy enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta de couro e caminhou até o cinema mais próximo.

Tod viu a fumaça subindo do laboratório e esperou que o telefone tocasse. Pessoas corriam de um lado para o outro no prédio a oitocentos metros de distância.

Não havia acontecido nada durante duas semanas. Thorkeld, o cientista que ele contratou para os testes, fez relatórios todos os dias. A coisa não havia funcionado em macacos, cachorros, ratos, lagartos, sapos, insetos ou mesmo em peixes em suspensão na água. O Dr. Thorkeld estava começando a pensar que os homens de Tod haviam pagado vinte dólares por um gás inerte em uma embalagem elegante.

Alguns momentos antes houve uma explosão. Ele estava esperando.

O telefone tocou.

– Tod... ah, meu Deus, é Jones, do laboratório, está...

A estática tomou conta da linha.

– Jesus Cristo! Thorkeld... Eles estão todos...

Houve uma batida no telefone do outro lado.

– Ah, meu...

– Calma – disse Tod. – Todos saíram do laboratório em segurança?

– É, é. O... ohhh.

O som de vômito tomou a ligação.

Tod esperou.

– Desculpe, Dr. Tod. O laboratório ainda está lacrado. O incêndio é pequeno, na grama do lado de fora. Alguém jogou uma guimba de cigarro.

– Diga o que aconteceu.

– Eu tinha saído para fumar. Alguém lá dentro deve ter feito besteira, derrubado alguma coisa. Eu... Eu não sei. É... A maioria deles está morta, acho. Espero. Não sei. Alguma coisa... Espere, espere. Ainda tem alguém se movendo no escritório, posso ver daqui, há...