Houve um estalo de alguém pegando um fone. O volume na linha diminuiu.
– Tog, Tog – disse uma voz, uma aproximação de uma voz.
– Quem está aí?
– Torgk...
– Thorkeld?
– Guh. Cof. Cof. Guh.
Houve um barulho como o de um saco cheio de lulas sendo jogado em um teto de chapa corrugada.
– Cof.
Depois o som de geleia sendo esvaziada em uma gaveta de escrivaninha abarrotada.
Houve um tiro e o telefone caiu da mesa.
– Ele... Ele atirou... Isso... Nele mesmo – disse Jones.
– Estou indo para aí – afirmou Tod.
Depois da limpeza Tod estava de novo de pé em seu escritório. Não havia sido bonito. O reservatório estava intacto. O acidente foi com uma amostra. Os outros animais estavam bem. Era apenas com as pessoas. Três morreram imediatamente. Uma, Thorkeld, se matou. Duas outras ele e Jones tiveram de matar. Uma sétima pessoa estava desaparecida, mas não havia saído por portas ou janelas.
Tod se sentou em sua cadeira e pensou por um longo tempo. Depois se esticou e apertou um botão na mesa.
– Sim, doutor? – perguntou Filmore, entrando na sala com um punhado de telegramas e ordens de corretagem sob o braço.
O Dr. Tod abriu o cofre da escrivaninha e começou a contar notas.
– Filmore. Gostaria que você fosse para Port Elizabeth, na Carolina do Norte, e me comprasse cinco balões vazios tipo B. Diga a eles que eu vendo carros. Consiga que 28 mil metros cúbicos de hélio sejam entregues no armazém do sul da Pensilvânia. Separe o material e me dê uma lista completa do que temos; qualquer coisa de que precisarmos, vamos garantir com sobras. Ache o capitão Mack, veja se ainda tem aquele navio cargueiro. Vamos precisar de passaportes novos. Encontre Cholley Sacks; vou precisar de um contato na Suíça. Preciso de um piloto com brevê para aeronave mais leve que o ar. Alguns escafandros e oxigênio. Lastro, duas toneladas. Um visor de bomba. Cartas náuticas. E me traga uma xícara de café.
– Fred tem brevê de piloto para mais leve que o ar – afirmou Filmore.
– Aqueles dois nunca param de me impressionar – disse o Dr. Tod.
– Achei que tínhamos dado nosso último golpe, chefe.
– Filmore – disse ele, olhando para o homem de quem era amigo havia mais de vinte anos. – Filmore, alguns golpes você tem que dar, queira ou não.
“Dewey era almirante na Baía de Manila,
Dewey era candidato outro dia
Dewey eram seus olhos quando ela disse sim;
Nós amamos um ao outro? Eu deveria dizer que sim!”
As crianças no pátio do prédio pulavam corda. Haviam começado no segundo em que voltaram da escola.
De início isso incomodou Jetboy. Ele se levantou da máquina de escrever e foi à janela. Em vez de gritar, observou.
De qualquer modo a escrita não estava indo bem. O que parecia ser apenas fatos quando contou aos rapazes da inteligência durante a guerra dava a impressão de vanglória no papel, quando as palavras eram escritas:
Três aviões, dois ME-109 e um TA-152 saíram das nuvens na direção do B-24 com problemas. Ele tinha sofrido pesados danos com a artilharia antiaérea. Duas hélices estavam torcidas e a torre superior havia desaparecido.
Um dos 109 mergulhou, provavelmente para dar um 360° e disparar na parte de baixo do bombardeiro.
Eu dei uma volta longa com o avião e disparei um tiro em desvio a 650 metros e me aproximando. Eu vi três acertos, e o 109 se desintegrou.
O TA-152 tinha me visto e mergulhou para interceptar. Quando o 109 explodiu, eu reduzi e bati no freio aerodinâmico. O 152 passou a menos de 50 metros de distância. Vi a expressão de surpresa no rosto do piloto. Disparei uma rajada dos 20 mm quando ele passou. Tudo da cabine para trás se partiu em uma chuva.
Eu subi. O último 109 estava atrás do Liberator. Estava disparando com metralhadoras e canhão. Ele acabou com o artilheiro de cauda e a torre da barriga não conseguia se erguer o suficiente. O piloto do bombardeiro estava sinalizando para que os artilheiros de meio pudessem fazer mira, mas só a arma de meio da esquerda funcionava.
Eu estava a mais de um quilômetro e meio, mas subi e virei à direita. Baixei o nariz e disparei uma rajada com o 75 mm logo antes da mira passar pelo 109.
O meio do caça desapareceu – eu podia ver a França através dele. A única imagem que guardei foi, ao olhar para baixo, ver o alto de um guarda-chuva aberto que alguém fechou de repente. O caça pareceu um enfeite brilhante de árvore de Natal enquanto caía.
Então os poucos artilheiros que sobravam no B-24 abriram fogo contra mim, sem reconhecer meu avião. Transmiti meu código de identificação, mas o receptor deles devia estar inoperante.
Havia dois paraquedas alemães bem abaixo. Os pilotos dos dois primeiros caças deviam ter saltado. Voltei para minha base.
Quando fizeram a manutenção descobriram que me restavam um de meus 75 mm e apenas 12 cartuchos de 20 mm. Eu havia abatido três aviões inimigos.
Depois soube que o B-24 havia caído no Canal e não havia sobreviventes.
Jetboy pensou: quem precisa dessa coisa? A guerra acabou. Alguém realmente vai querer ler O garoto com propulsão a jato quanto for publicado? Alguém além de idiotas continua a querer ler Jetboy Comics?
Nem mesmo acho que eu sou necessário. O que posso fazer? Combater o crime? Posso metralhar carros em fuga cheios de assaltantes de banco. Isso seria uma luta realmente justa. Circo aéreo? Isso acabou com Hoover e, além do mais, não quero mais voar. Este ano mais pessoas vão voar de férias por companhias aéreas do que todos os que estiveram no ar nos últimos quarenta e três anos, incluindo pilotos do correio aéreo, de avião fumigador e guerras.
O que posso fazer? Desmontar um truste? Processar os que lucraram com a guerra? Esse é realmente um trabalho sem futuro. Punir velhos malvados que estão roubando o Estado mantendo orfanatos e matando de fome e espancando os garotos? Vocês não precisam de mim para isso, precisam de Spanky, Alfafa e Buckwheat.
“A tisket, a tasket,
Hitler num caixão.
Eenie-meenie-Mussolini,
A sete palmos do chão!”
disseram os garotos do lado de fora, agora pulando com duas cordas em direções opostas. Crianças têm energia demais, pensou. Eles aceleraram um pouco, depois reduziram novamente.
“No calabouço, quatro metros de fundo
Onde o velho Hitler dorme um sono profundo.
Garotos alemães fazem cócegas nos seus pés,
No calabouço, quatro metros de fundo!”
Jetboy se afastou da janela. Talvez o que eu precise seja ir ao cinema novamente.
Desde o encontro com Belinda, ele não havia feito nada além de ler, escrever e assistir a filmes. Antes de voltar para casa, os dois últimos filmes que vira, em um auditório militar lotado na França, no final de 1944, havia sido em uma sessão dupla barata. That Nazty Nuisance, um filme da United Artists feito em 1943, com Bobby Watson como Hitler e um dos atores preferidos de Jetboy, Frank Faylen, que havia sido o melhor dos dois. O outro era um grande lixo da PRC, Jive Junction, estrelado por Dickie Moore, sobre um bando de dançarinos de suingue saracoteando na lanchonete.